sexta-feira, 3 de maio de 2013

A Ilha

Me vejo em uma ilha.
Muito fácil de entrar,
Mas que não se sai,
Lidar é a saída.

A ilha sonífera,
Em que sono é um cômodo desejo,
Não acordar pode ser um pesadelo.

As ilhas regidas por um arquipélago
De visceral cemitério.

A ilha que emite um facho de luz,
Que um dia me seduz,
Mas para onde me conduz?

Eu nado
E nada.
Sufoco no meu corpo mutilado,
Afogo na minha alma ilhada.

Nessa ilha 
Em que se confunde uma selva
Com sua relva
Rasteira.

Me vejo em um lugar ao sol,
descontente com a sombra e água fresca.
E no pasto, não sou apenas a ovelha negra.
Sou somente uma ovelha.
No meio de uma seita,
Mendigando uma seiva,
Contemplando a ilha feia.

Sem pastor,
Nessa ilha
Em que brota um cor,
Mas sem onde colorir,
Colore o que for.
Uma lástima, uma ira
Em disfarce de flor
No meio dessa ilha.

Da ilha que se acha,
Na ilha em que estou perdida.
Da ilha que se mata,
Da ilha puramente viva.
Da ilha sem chegada,
Mas esperada a partida.

Nessa ilha não se teme a noite,
Pois tenho minha lanterna.
Temo o dia, em a nossa vista
Só alcança o que desespera.

Nessa ilha não se teme a solidão,
Dela se extrai a paz, o medo é ser só
No meio de uma multidão.

Nessa ilha não tem Wilson.
Ele foi furado.
Murchado, e quem se importa?
Apenas mais um coitado.

Nessa ilha não há náufrago.
O duro é sobreviver em terra.
Não morrer na mata.
O mar apenas o nosso fim espera.
Zomba de nós, por ser infinito,
E salgado pelo maldito.

Essa ilha é tão grande para mim.
E tão pequena para minhas neuras e afins.

Nessa ilha o único metal
É o contra as nuvens, 
Vive de seu interior 
E não de vento no litoral.

Essa ilha ardente,
Em demasiado açúcar diabético
E sem sal.
Essa ilha do incerto
E daquilo que é deve ser correto.

Essa ilha no mapa,
Mas que não tem mapa.
Essa parte da ilha
Que não quer ser vista.

Essa ilha com maré,
Não maresia.

Essa ilha do perdão.
Pois nela há pecado.
Tudo é pecado.
Mas a nada é resignado um não.

Ilha sem oásis.
Ilha das saudades.

Essa ilha qualquer...
Essa ilha de quem entrar,
Mas não necessariamente de quem quiser.


- Júlia S.


Nenhum comentário:

Postar um comentário