quarta-feira, 24 de abril de 2013

O Homem da Minha Vida

Dedico este texto ao homem que eu mais amei,
mas que já não vejo, como diria o matuto, faz mais de mês.

Dos que eu conheço, pode crer, é um dos homens mais inteligentes.
Sempre amou, mas com um jeito muito particular de amar,
De mostrar o que sente.
Nunca se calou, quando algo lhe fazia refletir ou se incomodar.

Um sujeito cuja cabeça nunca parava.
Que o pulmão se deteriorava.
E o coração, até hoje é bendizer um mistério como ficava.

Seu estômago era adaptado com o vazio.
E seus rins e fígado em estarem cheios...
Mas e o seu peito?

Alguns achavam complexo com ele debater.
Eu achava instigante.
Mas mais ainda com ele viver.

Seus braços finos, me embrulhavam em seus abraços e carinhos.
Ainda com as marcas em músculos, de alguém que um dia já teve que levantar vários quilos.
Não de quem levantou peso na academia; mas de alguém que carregou nos ombros o peso da vida.
E quem sentiu nos ombros também uma mão que segurava o peso da morte.
Quem já se sentiu um ninguém, um sujeito sem sorte.
Um sujeito a quem é injusto se julgá-lo fraco ou forte.

Um sujeito que mesmo não carregando algo concreto, carregou o peso do mundo.
Um sujeito que por mais que escondesse, em seu fundo
Ele guardava a essência de uma pétala de rosa.

Talvez se disser, estranhasse, mas essa é a sua flor.
Com delicadeza e espinhos.
Com os pés enraizados no chão, curtia a beleza e a dor.
Pétalas não desabrochadas, mas também não murchas.
Vivia do seu caule, e do ápice de sua cor.

Não se derretia em lágrimas, mas não negava seu suor.
E quando achava que tava muito frio, compartilhava comigo algum calor.
Mas nem tudo ele soube tirar de salteado e de cór.
Tava tão acostumado com um duradouro descontento, e com prazeres tão efêmeros,
Que será que ele soube lidar com o amor?

Enfrentou o Estado e a sociedade, lutou pela sua própria liberdade.
E quando estava livre simplesmente para amar, como encarou a felicidade?

E eu tinha a certeza e a crença que nós éramos parecidos, mas não somos.
Qualquer tristeza deixa minha casa desabada,
Na dele, quando habita, deixa a porta trancada.
Não queria ser a Júlia que sou quando me emociono.
E ele também não deseja sua particular faceta.
E se para ele a porta está fechada para a tristeza,
Na alegria ele fecha a janela.
Enquanto a minha casa fica até os poros aberta.
Escancarada.
E aí vem mais um temporal e desaba.

Eu só não desejo mais nada,
Só que juntos moremos na mesma casa.
Talvez ele nem saiba tanto, 
Mas sempre foi o meu chão.
Agora é meu telhado,
Com os tijolos meio quebrados,
Onde me pergunto quando sua estrela cairá na minha mão.

Estrela que já foi a minha lua, o meu raio de sol.
Estrela que já foi meu mar, e simultaneamente, para eu não morrer na praia, o farol.
Estrela que quando me via como um peixe no fundo, desgarrado do cardume, me pescava com seu anzol.

E agora, sem esse anzol que tanto já me pescou?
Sinto a ferida infeliz,
Seu último souvenir, que me deixara em cicatriz.
E no meio desse mar, tento afogar a minha dor.

Quem inventou o amor? 
Não disse que o de natureza parental era incondicional?
Pelo menos é o que estou achando do sentimento filial.
O amor, esse tal...
Cuja expressão - infelizmente - é totalmente condicional.

Por que é escudo e ao mesmo tempo ferida?
Por que derrubaram o meu muro e me deixaram sem entrada nem saída?

Sei que esse homem nunca foi de estar em cima do muro.
Ou de um lado, ou do outro.
De preferência, o esquerdo.
Mas e agora?
Já não sei direito...
Derrubaram e remontaram, sem me contar como, os cacos?
Aonde nesse labirinto, velho, eu te acho?
Para te entregar o que eu sinto, e ter entregue o sentido do teu abraço.

Do que adianta sentir amor,
Se não me faz sentir seu calor?
Do que adianta te sentir,
Se não sei para onde ir?
Se sei onde estou,
Mas você não está aqui?
Se não sei como você se sente.
Se está com o c* ou o coração na mão,
Se você ainda me sente,
Se estar ao meu lado ainda é um projeto que tens em mente.

Por favor, não minta.
Eu só quero que tu sintas.
E venha me contar depois.
Quero que venha me ver, nem que seja para dizer
Apenas um "Oi,
"Como vai você?".

Eu já nem sei mais direito quem é você.
Não sei mais o que te faz mover, e para onde.
Só quero saber,
Se de mim você se esconde,
E por quê.

Só sei que quando me vem à memória,
Momentos nossos de outrora,
Tenho certeza que foi o homem da minha vida.

Sempre deixou claro porque veio,
Mas mal anunciou a hora de partida.

É o meu pai, com todos os obas e ais.
É quem me deu a vida,
E a minha foi,
É quem se foi,
É quem eu quero dar, cara a cara, pelo menos um simplório "oi".

Não se esqueça do que lhe é próprio,
Nem hoje nem depois.

De você já ouvi (maus) boatos,
Mas de você eu só quero sentimentos e fatos.

Nem sei se um dia isso estará lendo, 
Só queria que voltassem aqueles dias, em que mesmo remotamente,
Você estava me vendo.
E não vou negar,
Eu vou vivendo,
Brigamos feio,
Mas nunca deixei nem vou deixar de te amar,
E infelizmente agora feio é o meu sofrimento,
Com o que era para num meio desse bombardeio me confortar,
Às vezes faz outro problema parecer tão pequeno.
Mas sem você, mais difícil de enfrentar.

E vou me ferindo nos espinhos,
Rasgando a minha carne.
Da tua carne.
E derramando lágrimas de sangue.
Do teu sangue.
Sinto extinguida a minha raça.
A tua raça.

Eu quero é me envolver na tez de suas pétalas,
Que possuem uma outra cor,
Divergente da minha, mas que sinto como se me colorisse,
Talvez por em outrora ter sido meu cobertor.


- Júlia S.








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