sexta-feira, 19 de abril de 2013

E Se Eu Fosse Uma Flor?

E se eu pudesse ser uma flor? Carregaria minhas pétalas mais beleza ou dor?
Provavelmente não seria uma flor que nunca saiu do mesmo canteiro - a brisa me conduziria sem direção pelo mundo inteiro. E no final eu terminaria desgarrada no chão, cansada e despedaçada, quiça pisoteada por quem não liga mais para essa pobre flor.
Não seria uma flor de buquê. Não suportaria viver congelada numa floricultura com aquele cheiro que me lembra laquê.
Seria o cravo que brigou com a rosa debaixo de uma sacada? Seria uma dessas flores incompreendidas e assassinadas.
A verdade é que eu seria um dente de leão - viveria em um campo aberto, e com o bater do vento me tornaria tão livre, e simultaneamente tão frágil... E ia levando, ia amando, ia me libertando, ia aos poucos voando, iam meus pedaços se desmanchando, ia me machucando... E teria uma ponta de inveja das rosas vermelhas, que além de representarem em seu adorável tom fervor de uma paixão, ou como o sangue no ápice de sua pulsação, usurpariam sempre os momentos mais felizes, e em contrapartida curariam as cicatrizes; vivem num solo só delas, exibindo orgulhosas a delícia de seu perfume e o encanto de suas pétalas - contrastando com o dissabor de seus espinhos que tornam tão forte uma delicada flor. Amiga ou unguento da dor.
Mas acima de tudo, pelo menos, à medida que eu morreria, eu iria para o céu; e as rosas quando envelhecem vão deixando no chão suas pétalas. Minha grande vantagem sobre elas. Eu morreria rejuvenescida e nua. Elas morreriam secas, talvez veladas pela lua.

- Júlia S.






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