terça-feira, 16 de abril de 2013

A Calada

Gostava de falar demais. Para ela era óbvio e consequente: pensava e falava. Livremente. Idealizava e compartilhava. Jamais a boca calava; e tampouco seus olhos sinceros se fechavam. Sua mente era uma vitrine. Na qual exibia sem censura e na moral, aquilo com lisura e na real; suas coisas que não eram vendidas - apenas ditas, repetidas, refletidas, exercidas (ou exorcizadas)e divididas.
Nunca se cansava. Mas os outros sim. Pois esses outros não gostavam de gente assim. Quiça mal gostassem de gente. Falavam também mas não queriam ouvir. Nunca se perguntaram como se sente. E nisso quiseram por um maldito fim. O coro cruel de "CALA A BOCA, BÁRBARA!" foi arrebatador - seria seu pior pesadelo, sua pior dor. Dessa vez resistiu. Nunca mais interagiu. 
Estava morta e assassinada. Estava remota e asfixiada. Não tinha direito sequer de mostrar sua cicatriz - pois ninguém queria saber do que é infeliz.
Quase engasgava com sua própria boca molhada, em meio a tanta saliva não gasta. Suas lágrimas já estavam secas; mas sua cabeça continuava a mesma. Seu olhar muita coisa ainda viu. Aquele que riu, aquele que extorquiu, aquele que feriu, aquele que mentiu... E ela ali, calada na calada da noite, sua grande parceira, refletiu. Tomou enojada um cálice para suportar seu chá de cale-se. Mas mais uma vez não resistiu. No meio desse turbilhão de pensamentos e sentimentos (res)guardados, com o coração dilacerado e o saber sem poder estourado - ela explodiu. Juntaram dessa mártir seus cacos. Pelo menos em algum lugar qual for que seja mais uma vez ela sorriu. Livre no final - e remotamente observando o mal.

Silêncio era seu sinônimo de sofrimento. Sua ideologia era seu casamento. O dizer simplesmente viver; o brado do acontecer. O anúncio do alvorecer. O aquilo ou algo em seu puro clamor era unguento para a dor. Sempre barulho, de algum lado do resto do muro. Eu penso, tu pensas. Libertai as algemas. Eu grito, tu gritas. Eu vivo, tu vivas.

- Júlia S.




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